sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Incerteza

E então, cansado, senti se esvaírem de mim as únicas fraquezas que me restavam, sobrando somente um inconsciente a despertar. Sitiava-me algo inócuo, porém doloroso. Não saberia expressar com a mesma delicadeza e certeza dos que já sabem o porvir, sobretudo após uma estada conturbada na casa de um confrade.

A dor era cada vez mais pungente, e a despeito de conflitar com os mais densos pensamentos que me povoavam, indagava-me: Para onde iria? Atraía-me a graça exagerada do ócio e seus prazeres, seu bafejo sorridente e descompromissado. Mas já era a hora.

Os embates eram cada vez mais iminentes, tudo convergia para o mesmo lado. Mas qual seria ele, exatamente? O que se aproximava que eu não poderia descrever por palavras, quanto mais por sentimentos. Era assustador.

Não tinha certeza do que estava por vir, o futuro era incerto, sentia-me tal qual inocente folha deixada às intempéries do clima... Quiçá a luz surgiria no horizonte, rasgando por entre nuvens embaçadas de morosidade perversas. Talvez... talvez...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Perdido

Hoje já me tornei aflito novamente, eu não sei o que se apodera de mim, e sei que vou me machucar, mas ainda assim continuo a me atormentar mentalmente, não consigo tirar isso da cabeça, e vai de vento à popa, sem rumo, só vai.
Quando acordo já não sei o que sonhei, mas ainda me sinto aflito, e continuo assim, nem sei se te vejo, mas se vejo me aflige demais, me espanta e de súbito eu fujo, mas durante a fuga eu te encontro de novo e me perco.
Nem sei se vou, mas na volta me encontro e de encontro comigo vou, não quero e quero, não posso, mas me perco de novo.
E a cada suspiro eu morro, e cada vez que morro me torno mais vivo, e quando fugaz me tenho por completo.

domingo, 19 de outubro de 2008

Fugaz

Se não havia razão no começo, então não havia paixão, mas tesão, a carne é fraca por definição, perene e fugaz, mas a alma é forte, e nela reside a razão do rompante em direção ao coração.
Ser tomado de acesso não denota amor, mas pavor, pavor de se sentir só, de ser taxado de solitário.
Afinal, qual é o problema de ser um só, eu sou só, eu sou único, como um floco de neve, como uma onda no mar, como palavras que transbordaram do coração antes de que a razão pudesse dar forma àquelas coisas que escorrendo como caramelo, saem de nossas bocas e se solidificam como cordas, vindo nos amarrar.
Na realidade nada tem um objetivo por si só, nada é em si o que definimos. A definição de utilidade preserva a nossa pele, o maior órgão do corpo humano, essa que nos protege dos intempéries da vida, porque haveria eu de maltratar aquilo que me protege. Como um homem maltrata a mulher que o protege da solidão, como uma mulher maltrata a mão que lhe afaga afastando com a sinistra todos os problemas que se entrepõe.
E essa ardência que insistes em chamar de amor não o é. Não mais é do que vaidade, maniqueísmo, usura.
Portanto a paixão que borra o amor não é nem será o alicerce de nenhum relacionamento, nem a pedra angular, que mesmo torta e sem forma, seria o que manteria a estrutura forte, em vez disso enfeitamos os alicerces e deixamos ruir aquilo que entendíamos por vida.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Um Último Suspiro

Tinha os olhos embebidos em lágrimas, como se fossem fontes prestes a secar. Com a sinistra por sobre a fronte fez-se o pranto, copioso e salgado como a desilusão pela qual passara.
Eram 22 horas anunciava fortuitamente o relógio, vago e clamando por um simples fechar de olhos. Entretanto já era tarde e o gongo soara atrasado.
Com a empáfia dos que não se querem se dar por vencidos, pensara de que nada tivera culpa. O êxito da derrocada lhe deixara mais confuso, vituperando contra tudo e todos. Mas de nada adiantava, já se fazia noite.
O verbo não lhe vinha nítido , as emoções se lhe cruzavam e entrecruzavam por todos seus poros, naquele momento nada nem ninguém podia dar-lhe o que necessitava. Nem ele sabia ao certo o que buscava.
As persianas entreabertas deixavam escapar as luzes de outros prédios, que iluminavam a parede diagonalmente, criando um clima noir, em tons de cinza/preto e branco. As cinzas do incenso se encontravam ao lado do abajur tosco, que lhe fora dado.
Deitou-se esperando adormecer. As imagens não lhe saíam da cabeça, por mais que tentasse afugentá-las.
O telefone toca. Chama 4 vezes, mas ele não atende.
Não quer que ninguém saiba de sua acerba tristeza. 'As pessoas não sabem lidar com a tristeza alheia, e tampouco quero molestar alguém com meus pesares'. Ah, se tudo fosse mais fácil, pensara, que seriam das dificuldades?
Lembrou-se do primeiro amor sofrido, o primeiro tombo de bicicleta, o tratamento de canal que lhe molestara, a primeira briga na escola. Nada era comparado ao que sentia agora. O pranto já havia secado, mas mesmo assim, a garganta ainda doía, pungente!
Embalde lutava com todas as forças que teimavam em arrastá-lo ao âmago da dor. Queria afogar-se na tristeza, ao mesmo tempo que a rejeitava aos sufocos. Qualquer música não seria capaz de demonstrar-lhe o estado de ânimo, devido a prostração de seus sentimentos. Se conseguisse expressar de alguma maneira seus sentimentos...
Adormeceu, desiludido. E no onirismo responsável por seus atos mais tresloucados encontrou-se com ela. Estava linda, envolta em um cintilante vestido branco, com os cabelos esvoaçantes e a sorrir-lhe.
Tudo agora fazia sentido, nada tinha mais a temer. Ela o abraçou enternecidamente, como uma mãe o faz a um filho carente, afagou-lhe os cabelos castanhos e aproximou os lábios de seu ouvido. Nada disse, mas nesse momento ele soube. Tudo estava perdoado.
Como num quase despertar súbito, viu toda sua vida em um filme retrocesso, qual uma fábula inexistente. Lembrou-se do momento. O golpe no painel, a dor atinente. Estava perdoado, era o que bastava.
Despertou tranqüilo.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Com Destino

Veremos onde este caminho me levará, sempre foi assim, um dia após o outro, mesmo quando achava que controlava meu destino.
Mas as feridas cicatrizaram e hoje as uso como um general usa suas medalhas. E mesmo no calor da luta não me abato, sigo ereto, empunhando em desafiadora bravata minha lança. Cada vez que me ferir urrarei, não pela dor, mas em expectativa pelo próximo golpe.
A somatória de todas as guerras, de todas as batalhas me define, não acredito no medo, não creio na desesperança, sou muito mais do que um corpo material ou que uma alma etérea.
Pelas planícies em pungente galope, enquanto por sobre nós Thor defere mais um golpe de seu martelo riscando o céu num feixe de neon azul, e o aço penetra a carne, as Valquírias me abraçam e me acomodam em seus braços, o sangue esfria em minha fronte. Valhalla, aqui estou eu.

Seja Forte

Sei lá o que é isso que toma conta da gente, não sei o que o que dá errado, tudo vai bem, as coisas correm em um ritmo bom, as vezes nos sentimos sós, mas logo passa. Bons amigos, não nos preocupamos se encontramos alguém "interessante" quando saímos ou não, o que importa é a conversa, a música, o ambiente, as vezes alguém aparece, uma conversa pode acontecer, geralmente são superficiais e logo a conversa se torna monótona. As vezes é possível fugir, as vezes não. Uma vez em tantas alguém "interessante", ou pelo menos que aparenta ser, que consegue manter a sensação por mais tempo, aparece, mas nada que lhe impressione de verdade.
Aí sem aviso nenhum alguém de fato interessante aparece, a zona de conforto já não é mais satisfatória, uma inquietude permanente se instala, algo como uma mordida na bochecha, ela fica ali, e por mais que tu tentes evitar continua mordendo a mesma ferida que acaba se tornando uma afta. Mas por que somos fracos assim? O que nos dá o direito de sofrer, de querer alguma coisa, qualquer coisa, de pensar, de querer mudar qualquer coisa?
Devemos ser fortes, não nos entregar, ser integralmente individualistas, viver sem ninguém, sem precisar de ninguém, sem querer ninguém, sem se entregar a ninguém. É de nossa suma obrigação preservar a superfície de nossos corações, afinal de contas é o que nos mantém vivos. Precisamos preservar a superfície de nossas peles, ela é que cobre os nossos corpos e nos protege de todo esse mau que espreita aí fora.
Nós fracos, tolos, incapazes, viveremos pouco, morreremos tragicamente em pleno vigor de nossas vidas, sofreremos as piores dores que à nós mortais é permitido sentir, teremos cicatrizes horríveis à mostrar, por toda a extensão que compreende o coração, a pele e nossas almas. Que idiota somos de achar que aquele único momento valeu tantas noites em claro.
Eu invejo esses que tem a bravura e a coragem de permanecer estáticos, sem criar nenhum tipo de abalo no tecido da história, que não gritam, que não agitam, que não intimidam, que seguem o fluxo sem criar nenhum tipo de problema, que sabem se portar, que seguem os padrões, que seguem os novos padrões, que se adaptam com facilidade a novos conceitos, mas sem nunca se prevalecerem sobre os outros, sempre mantendo a sua identidade, mesmo quando o ritmo imposto lhes obrigam a mudar de identidade, fazem isso placidamente, e chegam a acreditar que nunca foram diferentes do que são agora.
Aos fracos, além de minha pena, dedico minha simpatia, homens e mulheres como vocês mantém a esperança de outros que são fracos como vocês próprios. Agradeço a fraqueza de Jack kerouack, que me inspirou inúmeras vezes e me acompanhou em muitos momentos de solidão, agradeço a estupidez de Martin Luter King, que inspirou muitos a fraquejarem, agradeço a incapacidade de Charlie "bird" Parker, que me inspirou e a muitos outros idiotas que acreditam na humanidade, e agradeço a natureza por ter me ensinado que só alguém estúpido o suficiente para tentar algo diferente, algo difícil, algo apavorante, morre uma morte dolorosa, mas ah, imagine as coisas que nós fracos vemos, vivemos e morremos por!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

A Semana

Segunda-feira muito cedo, não é justo levantar-me antes do sol, café e cigarros, nada mais no horizonte. labuta incongruente que me drena cada hora deste dia infindável. Ainda é muito cedo.
A vida vai ficando mais dura, terça-feira chega rápido, a vida se perde em cada tique do relógio, o dia não começou , mas eu já estou de saco cheio, mais café e cigarros, e me faz doente imaginar as horas perdidas em uma tarefa sem sentido.
Quarta feira e tudo permanece, o dia à dia comsuma meu escárnio por toda essa rotina insólita. O peso do dia me arrasta consigo, mas só agora cheguei a metade, e todo dia se seguirá como os que o precederam. Muitos cafés e cigarros.
Quinta-feira, ainda muito cedo, o trânsito me incomoda, a fumaça dos carros me faz tossir, acendo um cigarro e mais café. Os dias passam e o pesar cresce, a vida passa e o fim nem ao menos pode ser vislumbrado no horizonte.
Sexta feira, quando vejo está claro, à minha volta muitos conhecidos, todos com cara de pesar, não me lembro do dia começar, foi muito rápido, quando me dei conta estava aqui, muitas velas acesas e todos parecem tristes, acho que deveria ser um aniversário, mas por que tanta tristeza? Todos caminhando com passos pesados, muito silêncio e velas demais.
Acho que amanhã não chegará!